17 de set. de 2013

Picareta de Raridades

Reportagem: Nauro Júnior
Fotógrafo Zero Hora Pelotas


Sempre que vou a Rio Grande observo que às margens da BR 392, um pouco antes da Vila da Quinta, existem vários carros antigos que se exibem para os viajantes. Eu, que não posso ver uma velharia, fico me coçando toda vez que passso por ali. Hoje fui à Big River fotografar a “candidata a candidata”, pelo PT, Dilma Rousseff. Na volta não resisti. Paramos lá para para ver de perto as raridades que se mostravam para mim há bastante tempo. O Antunes, motorista da ZH, que me conhece bem, alertou.
- Te controla, e não pergunta o preço de nada, senão vamos acabar rebocando uma coisa destas até Pelotas.
Já na entrada me dei de cara com um Austin of England, ano 1951, e um Morris, do mesmo ano. Depois passei por Maverick, Miúra, Gurgel, Carmanguia, SP2, DKV, até me deparar com uma F100, ano 1965, que me olhou de um jeito diferente. Ficamos enamorados e quase perguntei o preço, mas senti que poderia me ferrar e sair dali endividado e com um velha Pikape para reformar pelo resto da vida. E o pior, talvez não pudesse entrar em casa.


Fui até o fundo da oficina e encontrei o Juliano. Ele tem 28 anos e é filho do Catarina. Também é conhecido por Catarininha. Ando na volta das velharias e oficinas há tantos anos, que identifiquei na hora um filho de maluco por carros antigos. É isso mesmo, somos todos iguais. Olhamos um carro caindo aos pedaços, com ferrugem até nos documentos, e comentamos:
- Mas isso aqui não precisa muito para ficar zerado. É só uma pinturinha, arrumar o estofamento, que fica novo.


Nós não enxergamos o carro como está ali aos olhos de todos. Nós vemos ele pronto, e isso passa de pai para filho. Já tive Rural, Mavirick V8, Puma, Orion e até um Motociclo Monark, Java 1956. Todos comprei aos pedaços e vendi zero Km, um tempo depois. O Oriom comprei com o chassi quebrado em dois pedaços. Busquei ele em um caminhão, soldei e reformei todo. A Java foi ainda pior. Comprei desmontada, enferrujada e descansando há muitos anos, dentro de um galinheiro, nos fundos da casa do antigo proprietário. Esse levei 11 anos para reformar. Depois troquei por um barco aos pedaços, que estou reformando até hoje.


O Catarininha também me observou. Disse que sabia que eu só tinha ido ali para ver, e me identificou entre vários tipos de clientes que passam por lá.

O cliente 0800: Aquele que quer tudo de graça.

O sem futuro: Aquele que olha, olha mas não leva nada.

E disse que eu inaugurei um novo tipo de cliente. O retratista: não tem dinheiro para comprar, e bate uma foto para ver o carro em casa sem gastar.
Oficina que trabalha com carro antigo é assim, sempre tem um maluco como eu, afim de ressucitar uma raridade. Sempre tem um mecânico gente boa, e um monte de gente com história inacreditáveis para contar. O seu Catarina, pai do Juliano, não estava. Tinha ido levar um Maverick 6cc, e um Dodge Magnum, V8 1979, até Santa Catarina. Os carros foram em cima de um caminhão. Algum maluco por lá terá motivos para se divertir pelos próximos anos. Porque andar em um carro antigo custa caro, mas garimpar peças, fazer churrascos na oficina, gastar tudo que se tem na reforma de um carro antigo , ah isso não tem preço.


Um homem que reforma um carro antigo é como um cachorro que corre atrás de pneu de carro. Ele corre, corre, quando o carro para, ele não sabe o que fazer. Depois do carro pronto temos que começar tudo de novo
Os vendedores de automóveis usados são chamados de “picaretas de carros”, então o seu Catarina e o seu filhos Juliano são “Picaretas de raridades”.


A “Oficina do Catarina, Restauração e reforma de automóveis antigos”, fica no km 29, da BR 392, em Rio Grande. É o verdadeiro “Salão do Automóvel Idoso”. Quem estiver achando a vida um pouco monótona e ociosa, vá até lá e compre uma destas raridades. Pode ter certeza de que a vida vai ficar agitada pelos próximos anos.
Eu  fundei o Associação dos Dependente dos Carros Velhos (ADCV), tenho conseguido resistir, e já faz alguns anos que não compro um para reformar, mas hoje quase tive uma recaida. Não sei por quanto tempo ainda vou resistir.

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