Após 31 dias e 11,5 mil quilômetros rodados em seis países com uma Brasília 1978,
o agente de viagens Ney Mello Júnior, de 31 anos, retornou ao seu ponto
de partida, em Araraquara (SP). “Parei em mais de 50 comandos
policiais. Eles vinham conversar para saber o que eu estava fazendo, sem
deixar de fazer piadas”, relata o aventureiro que sabe dos riscos que
corria a com o carro de mais de 30 anos pelas estradas.
Na bagagem, além das roupas reforçadas para o frio que enfrentou, kits
de alimentos e uma bicicleta, o araraquarense trouxe experiências
acumuladas durante os dias de viagem pelo Brasil, Bolívia, Peru, Chile,
Argentina e Paraguai, lugares onde chamou atenção com seu carro,
apelidado de "Velhoster".
"Nós éramos atração por onde passávamos, todo mundo via e se aproximava para conversar”, relembra Júnior em entrevista ao G1.
Na cidade de Potossí, na Bolívia, chegou a ser seguido por um morador
que tinha um carro idêntico ao dele. “Ele viu a Brasília na estrada,
pegou a moto e foi atrás de mim porque queria conversar, depois fomos à
casa da namorada dele, me mostrou o carro e tiramos fotos das duas”,
conta. “Ainda me disse que quer fazer o mesmo em breve, dou todo apoio”,
diz Mello Júnior.
Segundo o araraquarense, até mesmo os policiais que faziam fiscalização
dos carros o paravam porque ficaram curiosos, afinal, o carro era bem
antigo para tantas pistas sinuosas. “A estrada era bem pior do que eu
imaginava e em muitos momentos pensei que o carro fosse quebrar, mas ela
é resistente” comemora. Por isso, o apelido "Velhoster" dado ao carro,
uma brincadeira com sua Brasília e o potente carro sul-coreano.
Mecânica
Durante todo o percurso, a 'companheira' de viagem apresentou problema
em apenas três situações, que acabaram proporcionando bons momentos ao
aventureiro. “Depois da subida na Cordilheira dos Andes o carro
esquentou e a bomba de combustível quebrou. O incrível é que o carro só
parou quando eu cheguei em uma rua na frente da casa de um senhor, que
curiosamente se chamava Angel [anjo, em inglês], que me levou no
mecânico e me ajudou muito em Arequipa”, celebra o araraquarense.
Pela estrada peruana, uma das mais íngremes por onde passou na viagem,
Júnior saiu dos 100 metros de altitude aos 2,4 mil metros em duas horas.
A chegada foi no dia do aniversário de 472 anos da cidade no Peru.
“Tinha muitas festas e apresentações em diversos lugares e teatros, e
com o carro quebrado pude conhecer outra Arequipa”, justifica.
Apesar dessa experiência positiva, o araraquarense ficou preocupado
quando se perdeu em uma pista entre Santa Cruz de la Sierra e Sucre, na
Bolívia. “A estrada era bem pior do que eu imaginava e tive que rodar em
primeira marcha a 30 quilômetros por hora durante um dia inteiro para
chegar a lugar nenhum e perceber que estava perdido”, lembra. Ele acabou
indo para o vilarejo de Pojo. “Não estava na rota, mas valeu à pena,
conheci gente muito receptiva, que me ajudou a resolver um problema no
freio”, explica.
Além desses dois casos, o cabo de embreagem da Brasília quebrou em
Aiquile, também na Bolívia. Todos os problemas mecânicos foram
considerados pequenos pelo aventureiro. “Ela é minha queridinha e se
comportou muito bem durante a viagem”, comemora.
Estrada da Morte
A passagem pela Estrada da Morte, uma das mais temidas na rota montada
com antecedência, foi um dos momentos mais inesquecíveis para Júnior. A
descida de La Paz a Coroíco foi feita com a bicicleta que Júnior levou
no bagageiro do carro. “Subimos de van por uma estrada paralela e
descemos sob duas rodas e foi inesquecível pelas paisagens”, afirma.
Durante a descida, a velocidade da bicicleta chegou aos 70 quilômetros
por hora, segundo ele. “Em uma curva, quando reduzi a velocidade, os
pneus derreteram e perdi praticamente as duas rodas”, comenta.
Próximos desafios
Segundo Júnior, o próximo desafio com a Brasília será uma espécie de
rally. “Quero juntar carros antigos para fazermos rotas e viagens
juntos”, diz. Sobre repetir o trajeto, o aventureiro diz que quer passar
por uma nova experiência, mas com mais tempo. “Preciso de pelo menos um
ano em cada país para aproveitar tudo o que têm a oferecer”.
Fonte: http://g1.globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário